for emma, forever ago - bon iver (2008)
não são poucas as vezes em que os mitos influenciam a forma como ouvimos determinada música. a história por detrás desta ou do autor dá-nos, tantas vezes, uma perspectiva que enquadra e humaniza a obra. e este é um dos casos: justin vernon, o artista em questão, deixa a banda que não ia a lado nenhum, termina uma relação de longa data com a namorada e refugia-se numa cabana no meio do nada, em pleno inverno, isolando-se por quatro meses do resto do mundo. para sobreviver caça. para manter a sanidade mental compõe e grava.
o resultado é uma obra-prima, uma colecção de canções de um homem que perde tudo menos as suas memórias, medos e angústias.
folk introspectivo, catártico e claustrofóbico, onde todos as peças se fundem num perfeito retrato de um mito. a voz frágil aproxima-se, por vezes, do registo da de neil young ou elliot smith, mas é aqui reforçada pela sobreposição de várias pistas, acentuando uma tonalidade quase-celestial, qual coro de amigos-imaginários que se juntam à alma torturada em busca de rumo; o uso de pequenos artíficios electrónicos nunca coloca em causa o sentimento de privação que ecoa da música e as letras, na sua aparente falta de lucidez, são o espelho que reflecte a perda de sanidade e equilibro emocional de alguém à beira de um precipício...
ouça-se o álbum numa escura noite de inverno e certamente tudo aqui fará sentido.
the wolves (act I & II)
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